Não é de hoje que a sociedade impõe padrões de beleza às mulheres.
Barriga chapada, alisa o cabelo, pinta esse beiços, menina! faltou tirar os pelos.
O número de mulheres que buscam cirurgias plásticas e tratamentos cosméticos cada vez mais caros e tecnológicos para tratar imperfeições cada vez mais imperceptíveis aumenta em progressão geométrica a cada ano.
Agulha de um lado, bronzeamento de outro, cuidado com as manchinhas, pele lisinha, tira ruguinha, estica daqui e repuxa dali, um pouco de máscara pra descansar!
Porém esse fenômeno não é novo, ele tem uma semelhança muito grande com o século XIX. Eneida Queiroz escreve, em um artigo da Revista de História da Biblioteca Nacional, sobre as semelhanças entre o espartilho e os silicones e enchimentos da atualidade.
Enche, empina, endireita . Comissão de frente, cintura de pilão. Barriga chapada, bundão.
“As estruturas rígidas e os enchimentos das roupas femininas na segunda metade dos oitocentos, momento de paroxismo da erotização do vestuário, têm origem em peças mais antigas. No Antigo Regime, o barroco e sua vertente mais rebuscada, o rococó, ainda ditavam moda nos trajes de baile da corte francesa, como os de Maria Antonieta (1755-1793). Vestidos com ancas laterais conhecidas como pannier – estruturas de barbatana de baleia ou galhos de vime – ampliavam as saias vários metros para cada lado. Antes deles, na nobreza espanhola do século XVII, as saias eram suportadas pelo farthingale, visível nas damas dos quadros de Velasquez (1599-1660).”
“Ao longo dos anos 1820 e 1830, as saias eram rodadas e as damas da elite almejavam recheá-las usando muitas anáguas de diferentes tecidos, o que obviamente tornava a roupa pesada e dificultava a locomoção. O que se pretendia com o encontro de um espartilho com uma saia em forma de domo? Mulheres de cintura fina e quadril largo, ainda que escondidos sob a saia, mas sugeridos por sua amplitude. A sistemática exibição de um corpo feminino erotizado começava a tomar forma, mesmo que de maneira hipócrita e velada.”
Sorriso velado, olhar 43. Sedução. Jogo, mas não demais. Dá uma ideia, mas não demais. tudo um pouco, mas não demais. Pouco, difícil. Muito, puta, não vale nada.
Com o tempo a moda muda, mas o ideia de que a roupa demonstra status não. Seja status social ou econômico, cabe sempre, no decorrer da história eurocêntrica ocidental, à mulher se adequar a um papel imposto de uso de vestimentas com significados que vão muito além do que realmente vestir. Para ler mais sobre as vestimentas no decorres da história, veja a matéria completa aqui.
“O Ocidente assistiria a momentos de racionalização da roupa, preconizados por grupos como os pré-rafaelitas na Inglaterra, que baniram espartilhos, e como as sufragistas, que usaram a calça comprida bloomer a partir da década de 1850, mas foram exceções que não encontraram esteio na sociedade até as primeiras décadas do século XX.
Oprimidas ontem pelo patriarcalismo e hoje por seus vestígios ainda arraigados na mídia “photoshopada”, as mulheres seguem, em grande parte, com a autoestima baseada na aceitação dos homens.”